sexta-feira, 28 de maio de 2010

Encontros e desencontros


Encontros e desencontros

Aprender a ficar em silêncio, mesmo que acompanhada, é encontrar companhia no nosso próprio mundo interno


Às vezes eu tenho refletido sobre as dificuldades dos encontros afetivos, e não pensem que isto se refere às pessoas que não vivem um roteiro amoroso. Trata-se, na maioria das vezes, do próprio sentimento de solidão e isolamento em casais ou pessoas que vivem longas relações.

Estas “falas” são muitas vezes permeadas de uma sensação de que algo se perdeu ao longo de uma história vivida a dois. Será que de fato vivemos com alguém e conseguimos sempre compartir pensamentos, medos, esperanças e sobretudo silêncios? Às vezes, estes são vividos como uma sensação de abandono, ou de percepção de que não se é mais um casal. Os silêncios muitas vezes revelam aquilo que não pode ser dito: os segredos da intimidade.

Não existe nada mais incômodo do que estarmos em um restaurante e ficarmos mudos, em companhia de nossos parceiros (acho que todos com mais de 40 anos já passaram por esta experiência). Entre você e a pessoa existe um prato de comida, às vezes um vinho que não pode ser brindado e uma sensação de que o "script" não deu certo.

Aprendemos que a vida a dois é jeito mais saudável de passar a vida, e que é importante mantermos isto – ou seja, esta ilusão-relação a qualquer custo. E, em nome de termos alguém, sermos parte de um casal, vivemos muitas vezes o sentimento de solidão e desamparo.

Este sentimento é básico e constituinte de todo ser humano. Nascemos num estado de carência, e vamos ao longo de nossa existência procurando supri-la – a princípio, com nossa mãe. Ao longo da existência, tentamos repetir este padrão na busca de pessoas, amigos e amores que possam suprir este sentimento que sempre nos acompanhará. Não somos completos e, na medida em que vamos nos desenvolvendo emocionalmente, vamos percebendo que “o outro” também tem suas limitações e não consegue dar conta incondicional de nossos desejos.

A busca de uma mulher-mãe ou marido-pai acaba muitas vezes por deixar rastros incapazes de suprir este desejo. Acabamos por perceber, geralmente na maturidade, que nem sempre (ou melhor, nunca) é possível conseguir isso do outro.

Uma das lições importantes do processo da maturidade seria o resgate de partes de nossos desejos e a capacidade de estarmos só, embora isto não necessariamente signifique solidão. Estarmos acompanhados por nosso mundo interno, o que permite não nos sentirmos tão à mercê do amor e aprovação do outro.

Aprender a dar um espaço entre eu e o outro permite que se estabeleça uma nova forma de comunicação, mesmo que em alguns momentos o som do silêncio se faça presente. É preciso aprender a ouvir as batidas do nosso coração e o que ele nos diz.


Autoria :Dorli Kamkhagi - dkamkhagi@ig.com.br - é doutora em Psicologia Clinica, mestre em Gerontologia e pesquisadora Do Lim 27- Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.


Imagem: Net

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